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Especial Divino |
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Confira abaixo o bate-papo que tivemos com Penna
Filho, diretor do filme.
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PTD:
Primeiramente é um prazer para o Palmeiras Todo Dia
falar contigo. Bom, queríamos saber os motivos que o
levaram a fazer um filme sobre o Ademir. Ser Palmeirense
foi fator determinante ou se fosse torcedor de outro
time também faria?
Penna: Eu faria o
filme independente de ser ou não palmeirense. Mas, por
coincidência, sou palmeirense!.. Faria o filme sobre
Ademir da Guia não apenas por ser cineasta e ver nele um
personagem rico e expressivo, mas por privilegiar nos
meus filmes a arte e o processo de criação. No meu
trabalho, mesmo que não faça referências explícitas a
nomes, sempre abro espaço para reverenciar a poesia, que
é a mais bela manifestação do homem. Não apenas o verso
propriamente, mas a poesia que vive na música, na
literatura, no teatro, na dança, na pintura.
O que Ademir da Guia fazia em campo era arte pura. Suas
passadas diferiam das passadas dos simples mortais
porque eram cerebralmente pensadas, criadas. Na verdade,
o seu estilo lembrava a criação de um coreógrafo. Seus
passes e seus gols pareciam composições pictóricas. Eram
performances de um primeiro violino. Absolutamente
diferente. Único. Praticamente não vi Zizinho e Jair da
Rosa Pinto. Mas vi Didi e todos os grandes jogadores de
criação do futebol brasileiro que vieram depois,
inclusive jogadores do exterior. Não vi ninguém que
protegesse a bola como ele o fazia.
A grande maioria atuava da sua intermediária a
intermediária adversária. Dificilmente desarmavam um
adversário na sua área e também dificilmente invadiam a
área adversária. Ademir da Guia fazia isso, sem dar um
pontapé. Atuava em todo o campo, ora junto do seu
goleiro, ora fulminando o goleiro adversário na pequena
área. Isso ninguém me contou e eu não li em lugar
nenhum. Eu vi, desde que Ademir da Guia se firmou no
Palmeiras após a saída de Chinezinho.
PTD: Sobre o material do
filme, os áudios, vídeos e fotos, foi complicado
consegui-los? E onde os conseguiu?
Penna: Não foi
exatamente complicado, porque eu tinha idéia de onde
encontraria o material, principalmente por ter
acompanhado a carreira de Ademir. Complicado mesmo foi
conciliar os custos dos direitos de imagem com o
orçamento exíguo do filme.
As fontes utilizadas foram: Tv Cultura, Tv Bandeirantes,
TV Tupi (acervo
hoje pertencente à Cinemateca Brasileira), Tv E/Espanha,
produtoras
cinematográficas Canal 100, Herbert Richers e Primo
Carbonari, Jornal dos Sports, acervo do próprio Ademir e
de seus filhos, dentre outros.
PTD: Para o grande público,
o Ademir passa a imagem de ser muito tímido. Como ele
reagiu ao ser convidado/informado de que sua vida e obra
seriam retratadas na tela do cinema?
Penna: Bem, antes de
mais nada, eu devo isso ao meu afilhado Márcio Diniz,
cuja paixão pelo Palmeiras certamente teve minha
Influência... Márcio foi quem levou a idéia ao Ademir
bem no início de 2002. Uns dois meses depois, estive com
ele para expor a idéia do projeto. Ademir recebeu com
aquela serenidade que sempre o caracterizou. Para ele
tudo é simples. Acho que sentiu a sua importância quando
afirmei que antes dele apenas Pelé, Garrincha, Tostão e
Zico mereceram filmes de longa-metragem.
PTD: Qual foi a maior
dificuldade que enfrentou para o filme virar realidade?
Penna: A maior
dificuldade foi negociar direitos de imagem e de música.
Calculei realizar o filme em 7 meses, mas levei um ano,
atrasando o cronograma por causa do tempo consumido para
discutir e rediscutir valores, condições e questões
burocráticas. Foi preciso negociar muito para que esse
item não afetasse consideravelmente o orçamento do
filme.
O mais triste foi não poder utilizar algumas músicas que
eu gostaria tal o absurdo solicitado pelos detentores
dos direitos autorais e patrimoniais. Tiveram a coragem
de pedir 40 mil reais para a utilização de alguns
segundos do samba-prefixo do Canal 100 (“...que bonito
é...”). Esse samba seria utilizado como fundo musical de
uma grande vitória do Palmeiras sobre o Náutico, final
da antiga Taça Brasil, de 1967, disputada em pleno
Maracanã sob chuva intensa, com atuação soberba de
Ademir.
PTD: O Ademir tem uma
imagem de injustiçado, principalmente por sido muito
pouco utilizado pela seleção brasileira. Você acha que o
filme pode mudar um pouco essa situação?
Penna: O filme não
vai mudar a imagem de injustiçado de Ademir. Muito pelo
contrário e este é o seu ponto visceral: explicitar a
injustiça que foi a sua sistemática exclusão da seleção
brasileira. Mostrar a estupidez que foi a sua exclusão.
Uma estupidez perpetrada durante três copas.
Em 66 e em 74, Ademir da Guia e Dudu compuseram o melhor
e mais vencedor meio de campo do futebol brasileiro. Não
tinha para Gerson, não tinha para Rivelino, nem para
Dirceu Lopes, outro que foi lamentavelmente excluído.
Absolutamente não concordo com a tese de que em 1970,
tal o excesso de craques para a posição, alguém tinha de
ficar de fora. Se houve “jeitinho” para a convocação de
alguns, como não levar Ademir na copa do México?
A questão é como bem coloca em nosso filme o cineasta
Ugo Georgetti
(“Boleiros – Era uma vez o futebol”), um palmeirense
ilustre: “Todos,
Gerson, Pelé, Tostão, teriam que acompanhar Ademir,
jogar no ritmo ditado pelo Divino. Isso seria demais,
não?”
É, a presença de Ademir naquela seleção poderia ofuscar
o brilho de algumas estrelas. Há um exemplo de estrelas
que se apagaram diante de Ademir numa competição
internacional, envolvendo o Santos de Pelé, o Barcelona
de Cruyff e o Palmeiras, então considerado figurante
numa das versões do troféu Ramon de Carranza. Um
jornalista de um grande periódico espanhol disse que
fora ver Pelé e Cruyff e acabou vendo Ademir, “um
primeiro violino de uma orquestra bem afinada que jogava
por música”. Sem dúvida, ele podia fundir a cuca de uns
e outros, já portadores de sérios problemas de visão...
PTD: Qual suas expectativas
quanto ao retorno da crítica e também do público?
Penna: É uma
incógnita. É parecido com urna eleitoral. Nas duas
primeiras sessões abertas ao público o resultado foi
excelente. Parece que mexe com a emoção das pessoas. Um
crítico de cinema paulista, Luiz Zanin, do jornal Estado
de São Paulo, também apaixonado cronista de futebol,
dedicou uma página inteira ao filme, que classificou de
belo trabalho.
No Rio de Janeiro foi assim também: o filme considerado
à altura da
qualidade do personagem. na verdade, minha expectativa
está na resposta da crônica esportiva e do público
amante do futebol. Ambos entendem de paixão e de emoção,
e não tem a frieza que caracteriza a crítica
cinematográfica. É claro que o filme não é perfeito e
não tem tudo que o personagem merecia, mas é um trabalho
digno e sério. Acho que isso vai ser reconhecido.
PTD: Se pudesse definir em
uma palavra, como definiria Ademir da Guia? (não vale
"Divino"!)
Penna: Não tenho
essa palavra. Repetiria tudo que se disse a seu
respeito, com um rol de adjetivos. Acho que Divino é o
máximo. Em meio ao suor, ao pontapé, ao palavrão, aos
nervos à flor da pele, ao arbítrio, enfim, em meio a
tudo e a todos os componentes do grande mosaico do jogo
de futebol, Ademir da Guia sempre foi Divino.
PTD: O PTD agradece a
entrevista. Deixe um recado aos milhares de Palmeirenses
que acessam nosso site. Convide-os para conferir o
filme!
Penna: Gostaria que
os palmeirenses vissem o filme, porque se trata de uma
experiência ímpar: só a tela grande do cinema, só a
magia da sala escura do cinema, pode mostrar com realce
e riqueza, detalhes de imagens e de sons que se perdem
na tela pequena da tv ou do vídeo. Creio que será muito
prazeroso ver boa parte da história do Palmeiras no
filme, a partir da trajetória de Ademir da Guia, de 1961
e 1977. O que o filme mostra é um Palmeiras glorioso,
vencedor, de futebol clássico. Tem Dudu e Ademir, a mais
famosa dupla de meio de campo do nosso futebol. Tem a
saudosa primeira Academia, que se vestiu de verde e
amarelo em 1965 para jogar e ganhar do Uruguai por 3 x
0. Tem a segunda Academia, dos anos 70, que encheu mais
ainda a sala de
troféus do clube. Tem uma galeria de craques memoráveis
que se vestiram de verde.
Para os mais jovens, é o momento de conhecer e constatar
porque o Palmeiras construiu esse patrimônio tão
extraordinário. Para quem viu e vibrou, é o momento de
recordar. Recordar com lágrimas nos olhos, como aqueles
que viram as duas primeiras sessões públicas do filme.
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